domingo, 9 de maio de 2010

“Mulher virtuosa, quem a achará?”

Minha família sempre foi o oposto de tudo que se possa imaginar. Não nos presenteamos nos aniversários, não compramos nada um para o outro no Natal, não existe dia dos pais, dia das mães, dia das crianças ou qualquer outro dia que seja.

Claro, quando eu ou Natan precisamos de alguma coisa, meus pais não pensam duas vezes em comprar. Quando eles precisam, obviamente, também compram. Mas nunca por cauda de uma data em específico. Entretanto, infelizmente, sempre esperamos por datas estipuladas pelos homens para dizer algo a alguém especial, quando deveria acontecer diariamente.

Existem filhas que mal olham na cara das mães, mas hoje estará almoçando com ela simplesmente por causa do dia. Bueno, liguei pra minha mãe como de costume. Desejei feliz dia das mães e falei as coisas clichês que todo mundo fala. Inovação não é algo característico em datas especiais.

Como não quero ficar séculos sem escrever no meu blog – olha o interesse por trás do motivo do post -, vou falar sobre uma das (poucas) pessoas mais importantes na minha vida, minha mãe.

Desde criança sempre fui muito apegada a ela, inclusive, até pouco antes de ir estudar no Canadá, só conseguia dormir se ela cantasse pra mim. Shame on me, I know. Quando estava na quinta série do ensino fundamental, ainda residindo na Henriqueta Galeno, em frente ao Colégio 7 de Setembro, perguntei pra minha mãe se ela amaria a mim tanto quanto a meu irmão mais novo, caso tivesse um. Óbvio que ela disse que sim. Não dormi até ela dizer que amaria mais a mim do que qualquer outro inoportuno filho que viesse posteriormente. E ainda fiz com que me garantisse que a ligação das trompas era segura e que, dessa forma, seria impossível engravidar novamente.

A verdade é que é tão difícil encontrarmos alguém realmente importante que, quando isso acontece, não queremos dividi-lo com ninguém. E minha mãe é o tipo da pessoa que qualquer um se apaixona. E ter que dividi-la com meu pai e meu irmão já era o suficiente pra mim.

A Bíblia fala sobre a mulher virtuosa e, sem sombra de dúvidas, papai foi muito abençoado em tê-la encontrado. Minha mãe não é só uma excelente esposa, mas uma companheira inigualável, amiga fiel, mãe carinhosa e, por incrível que pareça, paciente, além de linda e com um corpo de dar inveja a qualquer jovem de 20 anos (e eu me incluo nesse grupo).

Se for pensar em termos de dona de casa, minha mãe nunca foi das melhores de acordo com o padrão conhecido. Até hoje o fogão do nosso apartamento é só de enfeite, porque nunca sequer compramos um botijão de gás pra lá; e o da nossa casa só serve pra quando recebemos visitas e, ainda assim, temos que testá-lo zilhões de vezes para termos certeza de que ainda funciona.

Mas, como disse papai ao meu avô quando foi pedi-la em casamento, ele não buscava uma cozinheira, mas uma companheira. E isso ele tem há 23 anos. Minha mãe amanhece o dia de joelhos orando pela nossa família e vai dormir da mesma forma, pelo mesmo motivo. Meus pais trabalham juntos e quando minha mãe vai pro sítio com minha avó, dias de terça e quinta, meu pai fica completamente sem chão no trabalho. Tanto é que volta mais cedo pra casa. Nessas férias, quando estive em Fortaleza, isso foi bem perceptível.

Em dezembro e janeiro, por sinal, não sei quem ficava mais ansioso para que minha mãe voltasse logo pra casa: eu ou meu pai. Quando ela chegava, ninguém desgrudava e era uma competição horrível para ver com quem ela ia ficar depois do jantar. Papai foi o que ficou mais contente com o final das férias e minha conseqüente volta ao RS. Por mais que ele negue, eu sei que é verdade. E compreendo, sério mesmo.

Mas, sem querer falar no quesito esposa, que ela é excepcional, a única coisa que tenho a dizer é que Deus foi maravilhosamente bondoso comigo. Eu não mereço a mãe que tenho. Só tenho a agradecê-la por ser sempre tão amiga, pronta pra me escutar quando preciso, mesmo que depois leve um tremendo esporro; por abdicar de tantas coisas pelo meu futuro; por orar por mim quando nem eu mesma oro, por interceder pelo meu futuro quando eu, muitas vezes, não o faço; por me amar mesmo com minhas grosserias, fase pela qual geralmente passamos e eu, infelizmente, não fui uma exceção.

Quando penso em mim como filha, desisto da idéia de ter filhos. Contudo, quando olho para minha mãe, mudo rapidamente de idéia, porque quero ter a oportunidade de abençoar a vida de alguém como minha mãe abençoa a minha, mesmo quando não faço por merecer.