terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Otário é Nosso Sobrenome


“A Filha do Presidente”, além de ser um filme água com açúcar e completamente entediante, tem uma história clichê sobre uma menina cansada de ser paparicada, ansiando por uma vida normal.

No meio de tanta ridicularização de atores de renome, como Michael Keaton, e de uma perda de tempo por parte de quem assistiu ao filme, é possível tirar uma única conclusão: somos otários. Sim, isso mesmo: otários.

Críticos do filme reclamam pela história repetida e previsível, mas não houve um que criticasse a forma com que nós, cidadãos comuns, pagadores de impostos, sustentadores da “ociosidade” dos políticos, somos tratados nele.

Em uma cena, Samantha Mackenzie, a filha do presidente, resolve levar dois amigos, Mia e James, para um dia de luxo a bordo do nada mais e nada menos Air Force One, avião que transporta o presidente estadunidense por todas as partes do globo. Os dois amigos aproveitam tudo o que a viagem pode oferecer: o conforto da aeronave, manicure e pedicure, coleção particular de jogos do presidente, programas de televisão e, pelo cenário, até vinho. Após a viagem, os três se preparam para uma festa na Casa Branca, Samantha e Mia saem à procura de trajes e James, de smoking. Obviamente não custeado por eles.

Interessante, no entanto, é a pergunta de Mia a si mesma no avião: “esse país não é uma maravilha?”. Seria bom que ela perguntasse isso às pessoas que trabalham arduamente para pagar os impostos e custear caprichos de pessoas que se beneficiam com essa tirania do Estado. Tenho certeza de que todos amariam saber como está sendo bem usado o dinheiro usurpado pelo governo.

Na festa, outra frase. Desta vez de Samantha, ao dançar com James: “é um país livre. Eu não ligo para o que dizem”. Bom, deve ser no mínimo interessante o significado de "país livre" para ela. As pessoas escolheram livremente pagar impostos os quais lhes foram impostos? Escolheram pagar o combustível do Air Force One da Califórnia até Washington DC para que dois estudantes universitários que nada têm a ver com o Governo fossem a uma festa, com trajes e maquiagens bancados pelo dinheiro público?

Sim, eu sei que isso é só um filme, mas é importante que notemos o perigo por trás disso, pois o que antes era ficção tornou-se realidade com o caso do filho de Lula ao levar 14 amigos para passar as férias escolares no Palácio do Planalto e na Granja do Torto às nossas custas e também com o caso do governador do Ceará, Cid Gomes, que levou a sogra num jatinho particular por uma viagem à Europa, dando um prejuízo de mais de R$ 388.000 aos cofres públicos cearenses.

É, nós somos otários. Um bando de otários.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A Meritocracia e sua Irrelevância


Hoje faz exato um ano que optei por seguir a carreira militar através da Efomm (Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante). Estava em dúvida entre ela e uma viagem aos EUA, para aperfeiçoar o inglês e fazer o exame do TOEFL, já que até então queria cursar faculdade no exterior.

Por influências e pela minha insaciável curiosidade pela vida militar, cancelei minha viagem aos EUA já planejada por meses, comprei o material exigido para ir à Marinha e ao período de adaptação, que eram de três semanas, e viajei no dia 4 de janeiro.

Se tivesse que dizer uma das decisões mais importantes que já fiz na minha vida, diria que ter ido à Belém, onde fica a Marinha Mercante, seria uma dessas (fora a decisão de pedir baixa das Forças Armadas).

No período de adaptação aprendi lições inesquecíveis, abandonei certos preconceitos e deixei meu orgulho um pouco de lado, passei a lavar banheiro, espremer pano imundo com minhas unhas recém feitas (que dó), levar esporro de graça sem poder revidar, pagar flexão, correr com fuzil e ser acordada de madrugada. O que mais levo de legado da marinha, no entanto, foi a disciplina que ganhei e a paciência para conviver com pessoas completamente diferentes de mim. Aprendi a lidar melhor com meus problemas e a superá-los.

Infelizmente nem sempre fazemos tudo corretamente, e o que fiz de errado lá vou levar comigo pra sempre. Arrependimento há, infelizmente não podemos apagar as besteiras que fazemos ou dizemos, mas ao menos aprendemos com eles.

Enfim, mesmo com tantas coisas boas que fazia por lá, mesmo com tantos aprendizados, eu não poderia ficar calada diante de uma única coisa que realmente me incomodava e que conseguia fazer com que tudo que havia aprendido fosse minimizado por ela: a hierarquia sem a meritocracia.

Nunca entendi como pode haver hierarquia sem a existência de uma meritocracia. Isso é incabível, inadmissível e completamente questionável (o problema é que “questionar” é um verbo inexistente no dicionário militar). Por que uma pessoa é mais importante que outra simplesmente por que chegou dois, três anos antes? E se uma novata for melhor instruída para o cargo da superior, por que não pode ocupá-lo?

Ao ingressar nas Forças Armadas, se uma pessoa A entra no mesmo dia que a pessoa B, elas serão capitãs no mesmo período de tempo, tardarão o mesmo período pra chegar a major, general e assim por diante. Então, não importa que a pessoa A trabalhe mais, se esforce mais ou estude mais que a pessoa B, elas serão sempre iguais. A falta de mérito desestimula pessoas como a A e faz com que se acomodem à mesmice. Isso não aconteceria numa empresa privada, mas isso não vem ao caso agora. Voltemos à questão hierarquia versus meritocracia.

Uma vez, em uma palestra na Marinha, nosso antigo ComCA (Comandante do Corpo de Alunos) nos disse que se após horas numa fila, faltasse apenas duas pessoas para sermos atendido e alguém superior a nós entrasse no recinto, deveríamos dispor de nosso lugar na fila a ele e irmos ao seu final. Afinal, a pessoa é superior a mim!

Outro exemplo dado por ele foi de uma vez, quando jantava com sua esposa num restaurante já lotado, e um superior apareceu com sua esposa para jantar. Como não tinha mais lugar, estavam deixando o restaurante, quando o comandante foi até lá e perguntou se eles queriam o seu lugar no restaurante. Como assim? E a comida já na mesa? E a esposa do comandante, como ficaria? Ela não merece respeito também? Que princípios são esses que aprendemos? Há quem diga ser respeito. Eu digo ser humilhação, desrespeito e injustiça para com quem chegou antes, para com quem realmente trabalha e deveras quer crescer.

Voltando ao primeiro caso, ao caso da fila, e se eu não vir um superior entrando? Não preciso doar meu lugar na fila? Ótimo, então vou sempre fingir que nunca vi superior algum, pois não me sujeitarei a uma tirania dessas, tampouco exigirei que alguém se sujeite a isso por mim.

Hierarquia, sim. Porém sem meritocracia, jamais.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Valor: egoísmo

Quando fui ontem fazer a prova de redação da Castelli ESH (Escola Superior de Hotelaria), um dos temas me chamou a atenção. É um tema aparentemente tão simples, que não percebemos a sutileza por trás dele.

Foi-nos pedido para elaborar um texto sobre nossos valores e o porquê de havê-los escolhido para nossa vida.

Os primeiros valores que pensamos geralmente são respeito, lealdade, ética, esperança e todas essas outras coisas politicamente corretas. No entanto, um único valor consegue abranger todos os outros, valor tal que rege e domina a todas as pessoas: o egoísmo.

Eu sou sincero com meu amigo porque espero sinceridade por parte dele. Sou respeitadora com os outros para que possa ser respeitada. No meu comércio, sou simpática com meu cliente para que ele volte e compre mais. Abraço porque gosto de ser abraçada, se não gostasse, não o faria.

Filantropia e trabalho voluntário não são nada louváveis. Ao contrário do que muitos imaginam, eles não passam de um egoísmo disfarçado. Por que alguém doa dinheiro? Porque gosta de ajudar o próximo. Por que gosta de ajudar o próximo? Porque se sente bem com isso. Por que alguém doa seu tempo no trabalha voluntário? Porque quer ajudar. Por que quer ajudar? Por que se sente bem ajudando.

As pessoas, quando não se sentem bem fazendo algo, naturalmente não o fazem. Queremos sempre fazer algo que nos faça sentirmos bem. Egoísmo puro. Portanto, se um filantropo doa dinheiro, é para se sentir bem consigo mesmo. Isso é egoísmo, não bondade.

Se a bondade existe, é graças ao egoísmo das pessoas. Não existe essa de pessoa boa ou má, e sim de pessoa que acaba indiretamente ajudando outras por causa de seu egoísmo e as que não ajudam pelo mesmo motivo: egoísmo.

É divertido pensar que algo aparentemente tão ruim é o único responsável por todos os bons valores existentes. E mais divertido ainda é ver como bons valores são completamente involuntários e egoístas, não nos distinguindo dos que não fazem nada por puro egoísmo, já que, no fim das contas, fazemos tudo pensando em nós mesmos, e não nos outros.

sábado, 30 de agosto de 2008

Mais um Ato Tirano do Estado

Mais uma vez nossa liberdade - a pouca que temos - foi apunhalada por uma atitude ditatorial do Estado. Ainda não satisfeito com o fato de nós, cidadãos, termos que pagá-lo para usar nossa própria propriedade, agora quer, também, decidir o que podemos ou não fazer dentro dela.
Serra já assinou, na quinta-feira, a lei que proibirá fumar em propriedades públicas ou privadas.

Ora, se a propriedade é minha, eu faço nela o que eu bem entender. A propriedade privada era para ser o maior exemplo de liberdade de um indivíduo. Se eu decido fumar, bem. Se quero beber, ótimo. Se decido passar o dia fumando maconha, o problema é somente meu, de mais ninguém. Afinal, a propriedade é minha. Eu paguei por ela.

Não apenas a propriedade privada será seriamente danada com essa lei que poderá entrar em vigor, mas também foi altamente prejudicada a liberdade individual de cada um de nós, pois não podemos mais exercer mais o livre arbítrio com o nosso próprio corpo. Vale salientar que nosso corpo é propriedade nossa.

Se todo esse esforço do Estado em abolir o uso de cigarros em praticamente todos os lugares foi pensando na saúde dos cidadãos, devemos ter cuidado, pois daqui a pouco, na melhor das hipóteses, haverá leis proibindo que tomemos refrigerante, comamos batatas fritas e compremos pizza altamente oleosa com aquele cheirinho irresistível. Na pior delas, seremos proibidos de tornarmos obesos, porque obesidade faz mal à saúde; tampouco poderemos usar impressoras a laser, porque de acordo com um estudo feito pela Queensland University, da Austrália, elas fazem tanto mal quanto o cigarro, por possuírem substâncias cancerígenas que trariam problemas respiratórios ao alojarem-se nos pulmões; assim como também nós, mulheres, não poderíamos usar mais calcinhas, principalmente as de materiais sintéticos ou forros grossos, já que impedem a ventilação no local, aquecendo-o.

Mas tudo bem. Eu sou grata ao Estado. Não sei cuidar da minha vida, não tenho inteligência nem maturidade suficiente para isso.
Obrigada, Estado, muito obrigada. Por que quero liberdade quando tenho a você?